No dia 21/04/2016 o Brasil acordou com uma notícia triste: duas pessoas morreram no desabamento de um trecho de cerca de 20 metros da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, com pouco mais de três meses após sua inauguração. Membros de entidades representativas da engenharia no Rio de Janeiro levantaram a hipótese de erro de projeto.
Não foi a primeira obra para as Olimpíadas onde se suspeita de problemas de projeto. Esse não é um problema das obras das Olimpíadas, tampouco um problema do Rio de Janeiro; é um problema brasileiro. No Brasil, a engenharia de projetos não é respeitada como deveria ser. Este é um fato que pode ser comprovado pelos prazos dados e pelos preços estabelecidos para a execução de projetos. No Brasil constroem-se edifícios, fábricas e outras grandes instalações, sem projetos prévios ou com projetos básicos.
O caso da ciclovia ganhou repercussão na mídia, inclusive internacional, por ser uma obra das olimpíadas e por causar a morte de pessoas. Mas quantas pessoas anonimamente perdem a sua vida ou ficam com sequelas pelo resto de suas vidas pela mesma razão? Sem considerar as perdas de eficiência e gastos desnecessários de recursos. O motivo desta situação é o fato de que a sociedade brasileira não considera a engenharia importante, em especial a engenharia de projetos. Existe um ditado popular que diz: “A natureza não perdoa”, e nós não temos como negociar com a física e a matemática, pois elas cumprem as leis pré-estabelecidas.
Em muitas situações o documento de projeto mais considerado é a ART (documento oficial do CREA indicando o responsável técnico pelo trabalho de engenharia), com o único objetivo de cumprir um requisito legal ou para que se saiba qual o profissional será responsabilizado em caso de sinistro. A preocupação maior é a de punir o profissional em caso de erro, do que dar a ele os recursos necessários para que se faça um projeto adequado e não ocorra o sinistro.
Eu quero aproveitar este momento de tristeza, para fazer uma colocação para a sociedade brasileira: até quando vamos desvalorizar a engenharia de projeto? Relembrado o ditado popular: “A natureza não perdoa”. Podemos achar culpados, mas isso não devolve a vida das pessoas que morreram, a alegria das famílias enlutadas e o que foi perdido pela sociedade com a morte precoce de pessoas. Se esta atitude não for mudada, continuaremos tendo os mesmos problemas, com ARTs assinadas visando achar os profissionais culpados em casos de sinistros. Somente com a engenharia bem feita é que vamos construir obras sólidas.
O que mais surpreende é que muitas vezes a engenharia é desprezada pelos próprios engenheiros. Com esta afirmação, não quero dizer que fatores econômicos, administrativos, políticos e muitos outros não devem ser considerados, isto para mim é evidente. O que estou analisando é que, quando se faz uma obra, seja ela, civil, elétrica, mecânica, química e de qualquer outra natureza, está se realizando uma atividade de engenharia, que tem uma série condições de contorno, como custo, segurança, estética, interferência visual, sustentabilidade, prazo, entre outras. No entanto, percebe-se em muitas situações que a engenharia, e em particular a atividade de projeto, é vista como uma simples condição de contorno para a obra e não a atividade fim, quando não, como um empecilho.
Gostaria de encerrar esta reflexão, com algumas questões:
O que será de um país sem engenharia?
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